O clichê de exaltar o trabalho feito por Rogério Ceni ganha este novo capítulo: não só pela invencibilidade, mas pelo poder de superação em jogos diante de São Paulo e Atlético Mineiro atuando com atletas a menos em campo e por ter a melhor defesa da Série A. Com elenco inferior tecnicamente, o Fortaleza se tornou mais competitivo.
Há quem pense que o Fortaleza abriu mão dos quatro atacantes, mesmo nas ausências de Wellington Paulista, Osvaldo, David ou Romarinho. O Tricolor segue o padrão do ano passado, estilo de jogo e maneira de jogar. A diferença é que encontrou variações para atacar os adversários dentro de campo, independente da camisa que esteja do outro lado.
Essa era uma alternativa que durante os jogos onde as vitórias se esconderam e as atuações do setor ofensivo foram abaixo, o Fortaleza adotou e insistiu. Atraiu em vários momentos o adversário para o campo de defesa quando a bola rebatia, mas se tornou eficiente com passar dos jogos e essas tentativas se transformaram em característica. Principalmente com apoio dos laterais Gabriel Dias e Bruno Melo, pela estatura, além do David ou Wellington Paulista quando essa ligação era feita direta ao ataque para explorar os avanços dos velocistas.
Uma das mais nítidas evoluções do Fortaleza, não apenas na bola parada, mas o que essa jogada origina. Dos últimos dez gols marcados pelo time, oito vieram nas jogadas aéreas, seja no rebote, diante do Atlético Mineiro, ou em sobras com a “bola viva” no setor de ataque, contra Ceará, Atlético Mineiro e Internacional. Desde o início da Série A , abrangendo estadual e Copa do Brasil, foram 19 gols em 17 jogos. Nove originadas dessa característica, oito delas nos últimos oito jogos, média de uma a cada jogo. Entre tantos números, o destaque: o Fortaleza aprimorou a letalidade por esse fundamento.
O time é armado de acordo com exigência do adversário. Em 2019, na reta final da Série A, o Fortaleza já apresentava sinais que melhorava no aspecto defensivo, mas não abria mão do protagonismo no ataque, com velocidade, jogadas individuais e triangulações que envolviam os adversários dentro de campo. Entretanto descuidava na marcação por uma questão de identidade no modelo de jogo.
Na 15° rodada da Série A ano passado, o time já havia sofrido 21 gols. Neste ano, são 11 e a melhor defesa do campeonato. O equilíbrio entre setores foi alcançado e de forma sutil, perdeu o protagonismo ofensivo, apesar de já ter feito 14 gols em 2020, contra 16 do ano passado nesse mesmo período de competição.
A maneira encontrada de atuar com mais rigidez na defesa se tornou uma arma, pela maratona de jogos e limitação de atletas para manter o mesmo nível ofensivo em relação ano passado. Isso faz o Fortaleza equilibrar os jogos contra times mais qualificados tecnicamente independente de onde atue, dentro ou fora de casa.
O sistema ofensivo do Fortaleza reside em Wellington Paulista, David, Osvaldo e Romarinho com adicional de Yuri César e raramente o argentino Fragapane. É nítida a falta de alternativas para os velocistas, principalmente se pensarmos na característica do tricolor em usar os quatro atacantes. Por necessidade, o time encontrou algumas soluções, ainda mais pela sequência de jogos e as idades avançadas de Wellington Paulista e Osvaldo para suportarem o desgaste físico.
Uma das possibilidades foi improvisar o volante Ronald, já utilizado nos dois lados. Neste caso, prioriza a recomposição e perde em profundidade por questões de características, mas consegue ganhar em qualidade no passe buscando as velocidades de Romarinho, Yuri César ou David, além de auxiliar na construção pelo meio com Juninho e Felipe.
O principal ganho, porém arriscado, foi com a dobradinha de laterais na direita. Gabriel Dias no papel defensivo e Tinga com prioridade ofensiva. Inclusive, para evitar o desgaste em alguns momentos na partida diante do São Paulo, ele revezou a recomposição pelos lados com Romarinho. Principalmente para conseguir flutuar entre os lados do campo, foi essa alternância que transformou Tinga em elemento surpresa no gol e também na assistência para o David diante do Atlético Mineiro.
Faltam 23 rodadas na Série A do Brasileiro, pelo menos mais um jogo pela Copa do Brasil e a final do estadual. O Fortaleza necessita de contratações, precisa de alternativas para oxigenar o elenco, principalmente no nível competitivo que alcançou, se possível, elevar a qualidade do elenco. A temporada ainda é longa e a metade se aproxima com a sensação de reta final gerada pela maratona e falta de peças. O grau de exigência física entre os jogos é alto, o desgaste acumulativo e, apesar do bom momento, o Fortaleza vem sobrevivendo na temporada, encontrando soluções provisórias dentro do próprio elenco e é preciso mais que a “conta do chá” para viver nas competições e dar continuidade a evolução de resultados que o time vem conquistando.
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